29 julho 2006

TERCEIRA REALIDADE


(...)

"Terceira realidade: a realidade do islão. O islão não conseguiu "entrar" no mundo moderno. Nem com a "independência", nem com o "socialismo" ("árabe" ou outro), nem com o dinheiro do petróleo. Da Indonésia à Síria, é uma civilização fracassada onde se acumulam pressões sobre pressões como dantes se acumulavam na República de Weimar: a miséra, o desemprego, a desigualdade, o fanatismo, a tirania e a violência. No meio desta inominável catástrofe, Israel serve de bode expiatório e símbolo de uma cada vez mais difícil e ténue unidade. Ninguém no islão vive ou viverá em paz com Israel. Ou com o Ocidente."

Parte final do texto de VASCO PULIDO VALENTE, na última página da edição do Público de sexta-feira, 28 de Julho, intitulado REALIDADES "nem sempre óbvias", sendo a 1.ª, a REALIDADE MILITAR e a 2.ª, a REALIDADE POlÍTICA.
Recomenda-se vivamente a leitura na íntegra e a consulta na NET de sites sem folks ideológicos maniqueístas, que ajudem a esclarecer, desde há três mil anos, estes ímpares e irresolúveis conflitos. Várias consultas ao nome de "Jerusalém", serão um início de esclarecimento.

20 julho 2006

ANTES - águasfurtadas n.º 9


No princípio não era o verbo
mas o antes. Ditoso
não-lugar onde nenhum mantimento
era necessário. Mesmo isso
a que chamam palavras, cadeias
servis de contágio e contagem,
não tinha qualquer serventia.

Era muito antes da cisão
da luz e da treva e
da fábula fatal de qualquer
existência. Muito antes da
invenção maligna de Cronos e
de outros princípios divinos. Muito
antes do negro e do branco,
do bem e do mal, do macho
e da fêmea.

Desnecessários eram,
por inúteis: searas e ceifeiros,
rebanhos e pastores, senhores e servos,
possuidores e coisas possuídas. Antes,
muito antes
do amor, do sangue e da sede, antes
da viagem, antes da subida, antes
do declive. Desde sempre
muito antes da morte.

Inês Lourenço, Revista águasfurtadas n.º 9, Edição NJAP/JU, Porto, 2005
http://revista-aguasfurtadas.blogspot.com

12 julho 2006

Telhados de Vidro - n.º 6

UM EPÍLOGO


Quando estes poemas parecerem velhos,
e for risível a esperança deles:
já foi atraiçoado então o mundo novo,
ansiosamente esperado e conseguido
- e são inevitáveis outros poemas novos,
sinal da nova gravidez da Vida
concebendo, alegre e aflita, mais um mundo novo,
só perfeito e belo aos olhos de seus pais.

E a Vida, prostituta ingénua,
terá, por momentos, olhos maternais.

JORGE DE SENA, Coroa de Terra, Porto, Lello & Irmão, 1946

(Poema incluído, em modo de prefácio ou nota prévia, no recentíssimo n.º 6 da revista TELHADOS DE VIDRO)

Direcção:
Inês Dias e Manuel de Freitas
Desenho:
João Cruz Rosa
Arranjo Gráfico:
Olímpio Ferreira

Edições Averno, Lisboa, Maio, 2006

10 julho 2006

"Marradinhas" da Gata Tobias

Para todos os visitantes, mas particularmente para a Nnannarella do
http://www.blogatelas.blogspot.com e comentadores .

Podia apôr um ou outro poema em glosa felina, mas fico-me pelo mote da imagem.

07 julho 2006

(Uma hora) só para ti ---------um poema de João Luís Barreto Guimarães


E
de súbito reparas que tens uma hora para ti.
Debates-te com o sofá sentindo os
ossos fremir
(cinquenta e cinco minutos) para entregar
ao que mais gostas. Uma hora só para ti nem
é nada habitual
(quarenta e sete minutos) sem o jugo das perguntas
privada epifania de veres chegar
o teu momento. Felizmente que esta tarde
tens uma hora para ti
(trinta e nove minutos) delida no teu silêncio e
nada fala mais alto que
o silêncio das mulheres. Repara que é a hora inteira
(vinte e quatro minutos)
a sala sem o colóquio das vozes à refeição
(cinco ou dez minutos) até à palavra ballet onde
a escolhes meia minha
meia tua meia nua.


Luz Última, Edições Cotovia, Lisboa, 2006.