24 junho 2008

Invenções do PORTO




Além do vinho do Porto, das tripas, dos filetes de polvo com arroz do mesmo, das iscas de bacalhau da Ribeira, do arroz-doce, do culto das camélias, do cimbalino, da francesinha, do fino, do rock português (Chico Fininho de Rui Veloso), do cinema português (Aurélio Paz dos Reis (1862-1931), do liberalismo (1820) e da República (1891- 31 de Janeiro), o Porto inventou a noitada de S. João.

Mesmo durante o Estado Novo, e até por causa disso, nessa noite havia lugar para todas as transgressões e desafios da autoridade polícia, aos pais, aos costumes). Era vox populi que muitas raparigas se desgraçavam na noite de S. João.

Diversos rituais desapareceram ou vão escasseando:

- as rusgas: grupos espontâneos dos bairros populares, operários e "ilhas", que com instrumentos improvisados, alhos-porros, folhas de palmeira, atravessavam as ruas, rumo às Fontaínhas ;


- as tasquinhas: numerosíssimas (no tempo antes dos "pomares", micro-mercados e cafés de bairro), ornamentavam a entrada com grandes folhas de palmeira e balões;

- as fogueiras, promovidas em várias praças, pelo Município, sobre as quais os e as mais afoitas saltavam, entre piadas e incentivos dos assistentes;

- as ervas-santas: a cidreira de S. João, a alfazema, a alfádega, o ainda perdurável manjerico;

- ir ver os arrolados :entendendo-se por "arrolados" os que "tinham perdido a noite" e tinham sucumbido ao cansaço e extremos báquicos na relva, nos passeios, etc. Uma espécie de desfrute de fim-de-festa;

- os bailes de rua em grande número;

- a queima de balões e de fogo-de-artifício.


- o anho: muitas mães de família, transportavam para os fornos de lenha das padarias, na manhã do Dia de S. João, as assadeiras de barro com o carneiro devidamente temperado em "de-vinha-d'alhos" e rodeado de batatinhas novas, que faria o trajecto inverso, devidamente assado, para a mesa familiar.

-as cascatas: uma tradição, que as crianças prolongavam , fazendo na sua rua, uma cascata com um pequeno santo de barro pintado, alguns carneirinhos (às vezes incluiam Santo António e S. Pedro e uns músicos fardados) e que se destinava ao "tostãozinho para o S. João"...







17 junho 2008

Em cada fruto a morte amadurece






Os restos mortais do poeta Eugénio de Andrade, falecido há três anos (13 de Junho de 2005), foram no aniversário da sua morte, trasladados do jazigo municipal do cemitério do Prado do Repouso, Porto, para um túmulo desenhado e oferecido pelo arquitecto Siza Vieira.

"Creio que com este túmulo, com esta pedra lisa de mármore branco, ele [Siza Vieira] foi extremamente fiel à poesia de Eugénio de Andrade. Diria que os dois se entenderam muito bem", considerou Arnaldo Saraiva, presidente da Fundação com o nome do poeta. O escritor sustentou que a "simplicidade" da obra "diz bem não só com o poeta, mas também com o homem". "Tenho a certeza que ele [Eugénio de Andrade] gosta deste túmulo, porque viveu sempre de uma forma discreta e pobre. Eugénio de Andrade nunca viveu com luxo e até detestava o luxo", salientou.


Na cerimónia de trasladação estiveram presentes, além de Arnaldo Saraiva, amigos próximos de Eugénio de Andrade, que leram alguns poemas, e também a vereadora da Acção Social da autarquia portuense e o reitor da Universidade do Porto, Marques dos Santos, entre outros.

Na "morada definitiva" de Eugénio de Andrade, uma campa rasa em mármore branco, estão inscritos uma quadra do livro "As Mãos e os Frutos", que o próprio sugeriu que poderia constar do seu túmulo, e um poema escolhido pelos amigos.

Autor de uma importante obra poética, de que se destacam "As mãos e os frutos" (1948), "Limiar dos Pássaros" (1972), "Memória de Outro rio" (1978), "Branco no Branco" (1984), "O outro nome da terra" (1988), "O Sal da Língua" (1995) e "Poesia" (2000), Eugénio de Andrade é um dos poetas portugueses mais traduzidos. A sua obra foi premiada por diversas vezes, destacando-se o "Prémio Europeu de Poesia", em 1996, o "Prémio Vida Literária", da Associação Portuguesa de Escritores, em 2000, e o "Prémio Camões", em 2001. Eugénio de Andrade foi ainda condecorado, pelo Governo português, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago e Espada, em 1982, e com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito, em 1988. Viveu no Porto - cidade de que foi cidadão honorário e onde foi criada uma fundação com o seu nome.



15 junho 2008

Sócrates, Scolari e a Casa Portuguesa








Nem pelos miríficos honorários que o Sargentão vai auferir no Chelsea (e aí as "éticas" de esquerda não se arrepiam), eu aturaria a meia centena de carraças vociferantes e assobiadoras que perseguem o PM, por todo o lado, em qualquer mínimo acto público.

Seria mais fácil e irónico que ele delegasse em Patinhas, Antões, Jerónimos e Louçanos, para nos rirmos (ou irmos pedir uma esmolinha a Bruxelas ou quiça a amigos ou ex-amigos de Putin, a Bush ou ao colega que vai para a White House); já cansa a inconsciente e anacrónica ségada que essa gente arruaceira representa.

"Proletários" já nem sequer existem; pois, pela tal queda de natalidade, já ninguém se dedica a fabricar prole numérica que se veja.

Os povos são responsáveis pelos líderes que geram e elegem.
Se a "esperta" Irlanda só tem uma auto-estrada e não elegeu Cavacos para gastar as "tranches" da CEE em vias de Infantes nem Guterres para permitir derrapagens financeiras e Universidades Privadas da Treta, teve agora oportunidade de cuspir na sopa, com o "não" dos beatos vaticanenses rurais, cheios de medo da ivg e dos casamentos gay, mais os ex-IRA (com os seus irrealismos habituais).

Entretanto o ódio mesquinho e irracional anti-sócrates rejubilou. "Ele perdeu!!". Ouvi imbecis num programa de "opinião pública" dizerem: "Foi o dia mais feliz da minha vida a seguir ao 25 de Abril"...

Os tugas estão habituados às palavras inócuas, sem clara e responsável assertividade . Apreciam ver nos políticos um ar de vips da "Nova Gente" ou "Caras", em que gostariam de se projectar ou então o ar de colarinho desapertado (que é tão "cozinhado" como o inverso). Também o ar professoral/paternalista ou aprumadinho/tacanho de self made man tem as suas aderências. Sócrates é eficaz, carismático e polivalente, sem armar ao charme barato nem ao populismo blandicioso. E tem sobretudo um discurso construído e consistente. Por isso a inconsciência comicieira que ainda se imagina no mundo dos anos 70 ou o merceeirismo semi-analfabeto e os oportunismos videirinhos de todos os sectores, não o reconhecem como pertencente à Casa Portuguesa.



Quatro paredes caiadas
Um cheirinho a alecrim
Um cacho de uvas douradas
Duas rosas num jardim

Um S. José de azulejos
Mais o sol da Primavera
Uma promessa de beijos
Dois braços à minha espera.

É uma casa portuguesa com certeza.
É com certeza uma casa portuguesa.

(da canção)

que era uma grande treta porque a tal CASA, constava sobretudo de:

- porrada marital
- analfabetismo
- meninos ranhosos e descalços
- três, ou mais filhos, em cada cama
- alcoolismo q. b. (não esquecer o famoso mata-bicho)
- caldo e broa (com sorte...)

e completa ausência de estado social.

13 junho 2008

Mais uma sessão do ciclo Poetas do Porto, Sábado, 14 de Junho às 18,30 horas, na Fundação Eugénio de Andrade - R. do Passeio Alegre, 586 - Porto


A poesia de Inês Lourenço, apresentada por Rui Lage.
Poemas ditos por Regina Castro.
A autora estará presente e responderá a eventuais perguntas da assistência.

09 junho 2008

António Damásio



Podemos construir mundos de fantasia. Há imagens que podem, à medida que são construídas, dar um prazer extraordinário às pessoas e podem ser elas que vão guiar o nosso futuro. E há pessoas que têm más imagens sobre aquilo que podem vir a fazer, ou que inventam mecanismos de destruição dos outros, inventam armas, inventam esquemas de roubo, de exploração de outros indivíduos. São consequências da nossa evolução. Shakespeare percebeu a coexistência de horror e grandeza no ser humano.

05 junho 2008

O PORTO É O MAIOR!



01 junho 2008

Mulheres e Eleições

Angela Merkel, Margaret Thatcher e mais modestamente agora, Manuela Ferreira Leite, são mulheres -políticas de Partidos Conservadores, que, curiosamente foram sufragadas para uma presidência.

A perplexidade surge quando, numa rápida rememoração das lideranças mais ou menos de esquerda, democráticas ou sociais-democrtas (a sério), não se vislumbra um nome feminino.
A ideologia e a praxis desses partidos, que pretendem minimizar as discriminações de género, levar-nos-iam a prever que um maior número de mulheres acedesse a altos cargos de responsabilidade e liderança.


Mas o caso de Ségolène em França e a provável derrota de Hillary nas primárias dos States, confirmam a perplexidade (entrando, contudo, em linha de conta com as especificidades políticas da USA) .

Sempre conheci gente de esquerda (eles e elas) de um machismo ensurdecedor. Porque primeiro estava "o Homem Novo", porque "a mulher não se liberta sem o homem", porque "primeiro luta-se pelos direitos laborais", porque, porque, porque...
A situação específica das mulheres ficava sempre entre parêntesis, por questões de estratégia partidária. Conheci senhores ditos de esquerda, que eram de um despotismo e agressividade doméstica, do tempo das Cavernas. E as mulheres sempre sofreram de falta de auto-estima. Que as imprepara para ocuparem os palcos do Poder.

Mas, voltando às "conservadoras" eleitas. Têm algumas características comuns;

-uma certa severidade
-passam da meia-idade
-um certo ar assexuado

Nelas se procura a respeitabilidade e a autoridade da mater-familias, capaz de atenuar as discussões e os conflitos entre os membros do clã. Ora, esta é a tradicional e coeva tarefa das mulheres: "adoçar" os conflitos; ignorar os insultos torpes (mulher honesta não tem ouvidos).

A aparência assexuada não é dos requesitos menos importantes. Os (e as) putativos eleitores sentem-se mais confiantes perante uma líbido feminina refrigerada ou aparentemente fora-de-prazo. Quanto aos elegíveis- homens, o caso é outro: imagine-se se o Sarkozy fosse mulher...

E se o caso Lewinsky fosse na inversa?

Donde se conclui que a líbido de uma mulher de esquerda é mais assustadora do
que a de uma de direita...Sempre pode ter andado nas freirinhas...

Quando haverá consciência suficiente evoluída, neste mundo, para entender que as assustadoras líbidos são as da iniquidade de poderes que os líderes , igrejas e demais corporações que os apoiam, fomentam milénios ?