31 janeiro 2008

Mais Simone de Beauvoir

A luta anti-sexista não é como a luta anti-capitalista, dirigida unicamente contra as estruturas da sociedade no seu conjunto; ela ataca em cada um/a de nós aquilo que nos é mais íntimo e nos aparecia mais seguro. Contesta até os nossos desejos, as formas do nosso prazer. Não recuemos perante esta contestação; para além da dor que talvez provoque em nós, destruirá algumas das nossas cadeias, abrir-nos-á verdades novas.

S. de B.

É sempre triste...

É sempre triste ver alguém competente, sério, honesto e até bem cotado internacionalmente, ser afastado de um cargo, que eficazmente e estoicamente cumpria.

É este o meu país, não das bananas, mas das corporações pardas, de interesses ocultos, armando de ululantes falsidades os analfabetismos localistas dum pobre povo de reformados.

O "assassinato político" do Ministro Correia de Campos, envergonha qualquer mente esclarecida.


Acho bem. "A luta continua". Substituam o governo todo e reinstalem o inenarrável PSD, para a Tugalândia ir mesmo para as bananas do Sr. Jardim, enquanto a nossa "esquerda" tão arcaica e irrealista como a nossa "direita", vai continuar a masturbar-se com os seus parcos dígitozinhos.


28 janeiro 2008

surpresa...- Sofia Lourenço interpreta Pedro Blanco, no youtube

22 janeiro 2008

Prado do Repouso - Porto



Túmulo de Eugénio de Andrade, da autoria de Siza Vieira.

foto de Alexandre Bahía

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Und nur wo Gräber sind gibt es Auferstehungen - F. Nietzsche

19 janeiro 2008

EUGÉNIO DE ANDRADE - 19 de Janeiro de 1924



AS AMORAS


O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
que também no meu país o céu é azul.

E. de A.

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09 janeiro 2008

Revista ARTEMÍSIA n.º 3 - (raridade bibliográfica)


Publicação sazonal - Julho 87 - 200$00
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Texto escrito em Abril de 1986 (pág.8 a 10)

SÉCULO VINTE



Simone não precisa de requiem



Caem-me debaixo dos olhos. Leio pequenos e médios títulos. Alguns nas primeiras páginas, outros nos suplementos literários de alguns jornais diários, de semanários. Morreu. Faleceu. Finou-se. Nomeadamente, em alguma imprensa feminista há alguma terna carpideirice. Adeus Simone. Au revoir Simone, Gracias Simone. Ou então o nome em letras GORDAS, fúnebres, negras, a cheirar a desastre. E tive ainda a desdita quase cómica (se é que uma desdita o pode ser) de encarar com um título "engenhoso", num jornal diário do Porto, em que se "literatava" dizendo: A Força da Idade não perdoou a Simone de Beauvoir". Obviamente o jornalista quis aludir ao livro "la force de l'âge", que obviamente não leu, ou leu mal, e que a escritora publicou em 1959. Para além do título altamente "futebolístico" (o jogador não perdoou e rematou o golo da morte-derrota) (...)

Mas, voltando a "A Força da Idade", que fraca força seria essa que permitiu a Simone até ao ano da graça de 1986, publicar mais sete livros, diversos manifestos, participar em manifestações proibidas pela polícia, conferências, entrevistas, modificar perspectivas ideológicas,visitar o Médio Oriente, a Checoslováquia e a União Soviética, envolver-se no problema da Argélia, etc, etc.

As filósofas, as ideólogas, as pensadoras (será que is to ainda soa mal?) deixam uma obra e um rasto. (...) A nós cabe-nos deixar o papel de carpideiras milenares, desmadrinhadas da referência tutelar que ela foi para muitas de nós. E por que não em vez de falar em requiem, pegar ou repegar num livrinho dela? E ler algum "requiem que literariamente comôs para uma moral hipócrita, às diversas opressões, às "naturais" imposições que executou no Grande Auditório que foi a sua vida?

(continua)









SIMONE DE BEAUVOIR - centenário do nascimento (Paris, 9 de Janeiro de 1908)



On ne naît pas femme, on le devient.

02 janeiro 2008

OLÍMPIO FERREIRA

(...) Desde sempre
muito antes da morte.


Assim termina o último poema, do meu último livro, saído em fins do último Outubro, na & etc.

Além de composto e paginado por Olímpio Ferreira, como é de uso na editora, onde me orgulho de ser publicada, também é dele a co-autoria da "hamleteana" capa.
Não sei se "hamleteana" se "oféleana", pois reproduz uma caveira feminina:

(Capa VST/OF
sobre fundo de William Morris)

O Vitor, em telefonema, falou-me do "verde alface" da imagem da capa, que o Olímpio estaria a aprimorar. Também me falou no filho recém-nascido, neste Outono, que dava más noites.

Ontem, noite de maçantes foguetórios 2008, deparo com incríveis mails e notícias nos blogues. É sempre arrepiante o confronto do balofismo eufórico, com a morte. Sobretudo injusta e inesperada.Que deixa um grande vácuo, a muitos níveis.

Tenho velhos cadernos de endereços, que já contêm consideráveis "baixas": Nava,Eugénio, Al berto, Natália, Sophia, Fiama, Egito, Cesariny, Grabato Dias, Hermínio Monteiro e outros. Pensei que a agenda do e- mail, de tão iluminada e tecnológica era inexpugnável a "baixas". É lá que está o e-mail do Olímpio.