30 abril 2006

O topónimo "Paris" resulta de "par Ys" - L'histoire de la ville d'Ys - (post anterior Debussy/Sena)

Le Site de l'Elfe Noir - Ars Magica - Les Veilleurs d'Ys
Voici l'histoire du Roi Gradlon et de la ville d'Ys. Le Roi Gradlon habitait en ... élevée entre les deux tours de la cathédrale Saint Corentin a Quimper. ...www.sden.org/jdr/arsmag/alliances/ys/histoire.htm - 17k - Em cache -

29 abril 2006

JORGE DE SENA


«LA CATHÉDRALE ENGLOUTIE, DE DEBUSSY»



Creio que nunca perdoarei o que me fez esta música.
Eu nada sabia de poesia, de literatura, e o piano
era, para mim, sem distinção entre a Viúva Alegre e Mozart,
o grande futuro paralelo a tudo o que eu seria
para satisfação dos meus parentes todos. Mesmo a Música,
eles achavam-na de mais, imprópria de um rapaz
que era pretendido igual a todos eles: alto ou baixo

funcionário público,
civil ou militar. Eu lia muito, é certo. Lera
o Ponson du Terrail, o Campos Júnior, o Verne e Salgari,
e o Eça e o Pascoaes. E lera também
nuns caderninhos que me eram permitidos porque

aperfeiçoavam o francês,
e a Livraria Larousse editava para crianças mais novas do

que eu era,
a história da catedral de Ys submersa nas águas.



Um dia, no rádio Pilot da minha Avó, ouvi
uma série de acordes aquáticos, que os pedais faziam

pensativos,
mas cujas dissonâncias eram a imagem tremulante
daquelas fendas ténues que na vida,
na minha e na dos outros, ou havia ou faltavam.
Foi como se as águas se me abrissem para ouvir os sinos,
os cânticos, e o eco das abóbadas, e ver as altas torres
sobre que as ondas glaucas se espumavam tranquilas.
Nas naves povoadas de limos e de anémonas, vi que

perpassavam
almas penadas como as do Marão e que eu temia
em todos os estalidos e cantos escuros da casa.



Ante um caderno, tentei dizer tudo isso. Mas
só a música que comprei e estudei ao piano mo ensinou
mas sem palavras. Escrevi. Como o vaso da China,
pomposo e com dragões em relevo, que havia na sala,
e que uma criada ao espanejar partiu,
e dele saíram lixo e papéis velhos lá caídos,
as fissuras da vida abriram-se-me para sempre,
ainda que o sentido de muitas eu só entendesse mais tarde.



Submersa catedral inacessível! Como perdoarei
aquele momento em que do rádio vieste,
solene e vaga e grave, de sob águas que
marinhas me seriam meu destino perdido?
É desta imprecisão que eu tenho ódio:
nunca mais pude ser eu mesmo – esse homem parvo
que, nascido do jovem tiranizado e triste,
viveria tranquilamente arreliado até à morte.
Passei a ser esta soma teimosa do que não existe:
exigência, anseio, dúvida, e gosto
de impor aos outros a visão profunda,
não a visão que eles fingem,
mas a visão que recusam:
esse lixo do mundo e papéis velhos
que sai dum jarrão exótico que a criada partiu,
como a catedral se irisa em acordes que ficam
na memória das coisas como um livro infantil
de lendas de outras terras que não são a minha.



Os acordes perpassam cristalinos sob um fundo surdo
que docemente ecoa. Música literata e fascinante,
nojenta do que por ela em mim se fez poesia,
esta desgraça impotente de actuar no mundo,
e que só sabe negar-se e constranger-me a ser
o que luta no vácuo de si mesmo e dos outros.



Ó catedral de sons e de água! Ó música
sombria e luminosa! Ó vácua solidão
tranquila! Ó agonia doce e calculada!
Ah como havia em ti, tão só prelúdio,
tamanho alvorecer, por sob ou sobre as águas,
de negros sóis e brancos céus nocturnos?
Eu hei-de perdoar-te? Eu hei-de ouvir-te ainda?
Mais uma vez eu te ouço, ou tu, perdão, me escutas?


Arte de Música, 1968

Jorge de Sena

28 abril 2006

INSÓNIA


Chega-se lá pelo endereço: http://antologiadoesquecimento.blogspot.com
É um blogue cheio de vitalidade, aberto a comentários e debates, que o autor (HMBF) acolhe sempre com algum "panache" e frontalidade. Fortemente vocacionado para a divulgação e comentário de autores de Poesia (nacionais e de outras Línguas) - o próprio blogger a pratica, e bem - não deixa de incluir posts de outras áreas artísticas, incluindo, além disso, temas políticos, jornalísticos, da crítica literária, chamadas de atenção a outros blogues, etc, etc, tudo sem pedantismos, nem segregacionismos "homolíticos" (isto é um " neologismo", que acaba de me ocorrer) ou assepsias vocabulares enojadas, (tipo: não se pode escrever "caralho","puta" ou "foda-se").

Outro factor que estimula o interesse é o facto, de tendo alguns colaboradores, não se eximir a discordar de opiniões, evitando assim, aquele efeito de sacristia e de sociedade de elogio mútuo, que noutros blogues com "team-members" é sumamente enfadonho.

Visitem, que ficam ainda mais insones...
A imagem azulínea, fui lá faná-la. Também lá está o nome do seu autor.

25 abril 2006

JOÃO E MARIANA




25 de ABRIL



Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen

20 abril 2006

GATA TOBIAS



Esta é um dos meus "team members", a Maria Tobias. Gosta muito de se passear por teclados: pianos, computadores e coisas semelhantes. Já pensei arrolá-la aqui no blogue, do lado direito. Mas a maquineta pede-me o e-mail e a password da bichana. E a minha competência blogueira não é suficiente para "atalhar" o pedido.

O nome não pretende ser blasfemo; resultou sim do facto, de ela ter sido uma "homeless" recolhida à minha porta, que os vizinhos chamavam de "o gato". Assim, por não me ter confidenciado o anterior nome, a rebaptizei de TOBIAS, "male, of course". Só mais tarde, mais confiante e menos medrosa, revelou o verdadeiro "gender". Como já respondia muito bem por "Tobias", resolveu-se acrescentar "Maria", para questões "oficiais", somente. Mas continua a ser só Tobias, no trato doméstico.

Os gatos, estes admiráveis e não subservientes seres vivos, estão em todas as literaturas e em inúmeros poemas. Conheci e conheço alguns poetas, vivos, de quem são fiéis companheiros.

16 abril 2006

SOPHIA



O AMOR



Não há para mim outro amor nem tardes limpas
A minha própria vida a desertei
Só existe o teu rosto geometria
Clara que sem descanso esculpirei.


E noite onde sem fim me afundarei.



Sophia de Mello Breyner
in O Cristo Cigano


15 abril 2006

ALTO DE S. JOÃO (contribuição deste blogue, além dos posts anteriores com Bach, para as exéquias da Quadra)

A cremação estava prevista
para o início da tarde.
(Ao fundo, o Tejo,
o vasto fedor dos vivos.)

Mais do que o Requiem,
comoveu-me
voltar a ver a fotografia
em que segurava o cão e sorria.
Ainda me mordeu algumas
vezes, o Sancho;
agora não existe
-e o Sérgio também não.

Pequeninas caveiras,
esculpidas nos anos vinte,
vigiavam soberanamente
a falta de jeito dos vivos:
tosse, palavras ocas,
furtivos cigarros. Talvez
a nossa única vocação
seja mesmo morrer.

Cidade real,
lixo das quimeras todas,
não ouças uma voz que não existe.

Manuel de Freitas
A Flor dos Terramotos, Averno, Lisboa, 2005.

14 abril 2006


(O poema que se segue, revisitando este autor, foi escrito e publicado, com cerca de 11 anos de distância do do post anterior, a que faz referência)


Thomas Bernhard


Dediquei-lhe um poema, há mais
de dez anos, para o qual certamente
se estaria nas tintas, se o lesse. É
um dos raros escritores que conseguiu
a difícil lucidez, de detestar a pátria, essa
obrigatória e durável fonte de equívocos
e mal-entendidos. Por isso
ele gostava de passar temporadas
em Portugal, não pelo mar, nem
pela comida, nem pelos modos
amigáveis para turistas, mas sim
porque podia escutar uma língua
sem ter de entendê-la.




Inês Lourenço
Logros Consentidos,& etc,Lisboa, 2005.


Steinway Glenn, Glenn Steinway



GLENN GOULD


a Thomas Bernhard


Procuras o som, a morte de ti mesmo,
centro do teu corpo a percussão que sonhas
límpida,
respiras como as cordas vibram
nessa invenção de vozes
mutuamente perseguidora.


Célere e luminoso expulsas da pauta
os ornatos falsos, os amantes fáceis,
desapossado estás de ti e possuído
pela audível construção impossivelmente perfeita
Steinway Glenn, Glenn Steinway
só para Bach.


Inês Lourenço, Os Solistas, Limiar,1994, Porto.
idem, Um Quarto com Cidades ao Fundo (1980-2000), Quasi, 2000, V. N. Famalicão.






12 abril 2006

GOULD



GOULD,1981

Deixo-vos isto
em morte.
Dedos como nunca mais,
o que demasiado sabemos
- por falta de saber,
por nada.

Mostrei, com extremo vagar,
o inventor de Deus,
um homem como eu.

Não, não é bem assim.
Não há homens como eu.
Prefiro a noite
de que sou feito
e fujo.

Canadiano, morto,
quase posso jurar que existi.


Manuel de Freitas

Büchlein für Johann Sebastian Bach, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003

11 abril 2006

Comentários


Após uma curta experiência de caixa de comentários ad libitum, e segundo já me tinha apercebido, em rápido périplo por outros blogues, os comentários são na maior parte das vezes, meras "bocas" de um basismo confrangedor ou então exibicionismos mais ou menos retóricos, sem poder de síntese, com alguns erros ortográficos ou de sintaxe; esta boa gente, encontrou este púlpitozinho virtual, (quantas vezes à custa das firmas ou das organizações estatais, onde trabalham...) para expender os seus chavões e mistelas, que julgam únicos e cheios de "verve"; e como não consegue aparecer noutros ecrãs, vai aparecendo por aqui.

Também há o fenómeno das "paróquias" (políticas, profissionais, sexuais, engatatais, aventais, rotariais, edecetraetais) e aí a "freguesia" é certa, em "sociedades de elogio mútuo", para "members only". Se cai lá algum desgraçado, só pelo gosto da polémica ou das ideias diferentes, às vezes muito mais elaboradas, que transporta, é logo linchado, pelas alarvidades ou pelo silêncio.

Verifica-se também, que postar textos de excepção - e aqui não está implícita uma conotação valorativa "tout court" - tentando iluminar perplexidades, fora do kitsch lindinho (de preferência com muito mar e montanhas) e do "o que eu quero é curtir, sem me maçar", não colhe olhares adequados.
Muito lixo internético e poesia merdosa são elogiados por comentadores igualmente merdosos, tipo (lindo, fantástico, tu é que és..) quais novos Sá-Carneiros elogiando Pessoa depois de lerem a "Ode Triunfal".
Mas, devo pedir desculpa a alguns comentadores, que enviaram incentivos em bons comentários e perceberam estas "involuntariedades", exprimindo-lhes o meu sincero agradecimento.
O e-mail continuia disponível.

08 abril 2006

EUGÉNIO DE ANDRADE


Os grandes poetas têm um olhar ubíquo. Mesmo que sejam cegos, como Homero ou Borges.
Por isso Eugénio, que fez suas "de tanto olhar", muitas palavras da nossa Língua, (sol, trigo, fontes, desejo, lábios, barcos,gaivotas, gatos, crianças, música, sílaba, lume, cal...) escreveu, também, poemas como este:



A POESIA NÃO VAI


A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do verão.



Andrade, Eugénio, Poesia,Fund. Eugénio de Andrade, Porto, 2000, 1.ª ed., p. 526

O FUTURO É JÁ AQUI (uma tese para a filosofia da escória)

Comemos, de facto,
o pão que o diabo amaciou.
E a esbelta torneira dos dias
não há-de parar de correr por isso.

Que queríamos mais?
Temos o mundo em casa,
perfilado num ecrã sem fome,
e até o sexo pode ser já
dieteticamente resolvido
sem aqueles encontros demasiado
perigosos (à mercê da noite
ou de um novo vírus).

Sabemos logo pela manhã
que Hegel não tem
essa solene razão
que a meio da tarde
outorgamos a Vattimo.
E ao cair da noite nem sequer
vamos ter saudades do presente
ou do corpo que neste presente passa,
despedindo mónadas e desejos
vagos que não são - à imagem
de Deus - recicláveis.

Porque o futuro é já aqui:
este festim de destroços
à vista de ninguém - exacto.

A filosofia da história morreu,
sem anjos nem alegorias,
sem que o previsto soluço se ouvisse
nas bocas em que a servidão
se inventa e é servida a frio
por tenazes de veludo.

E não será certamente agora,
depois de tudo (ou do nada),
que um comboio de corda
nos levará de novo
à infância triste do mundo:
nosso irreal inferno possível.

GAME OVER, Manuel de Freitas, & etc, Lisboa, 2002, p. 29

07 abril 2006

my complete profile

No item destinado a livros, esbanjei completamente o espaço com os poetas. Para mim a Poesia é a grande "razão", devido, sobretudo, à sua bela "inutilidade".

Mas, não posso deixar de referir, tantos nomes de ficcionistas e alguns autores de teatro, que me ajudaram, juntamente com os poetas, a perservar e a eleger a latitude do pensamento e a atravessar tanta "choldra" - palavra queirosiana - humana e institucional. Além de que o ritmo, as "epifanias", as "persona" da boa ficção, inscrevem-se igualmente numa "Poética", que reconhece, quem conhece fundamente os "mistérios" destas "inutilidades".

Assim:
Sófocles, Eurípedes, Shakespeare (sempre), Tenesse Williams, Arthur Miller, etc

Tanto!:
Sartre, Camus,Proust, Simone de Beauvoir, as duas Margaridas, Yourcenar e Duras, as irmãs Bronte (com trema) Emily e Charlotte, os enormes russos Dostoievsky, Tolstoi, Tcheckov, etc
Mais:
Borges, Guimarães Rosa, Thomas Mann, Octavio Paz,Kundera, Thomas Bernardt, Umberto Eco e muitos edecetras.

Não vou deixar de nomear os portugueses:
Eça, Camilo, Raul Brandão,Carlos de Oliveira, Aquilino, Irene Lisboa, Maria Velho da Costa, Agustina, Rui Nunes, etc

06 abril 2006

variações sobre um retrato




1.

No escarlate do vestido
entre os joelhos avulta
o versátil companheuro
que em voz grave lhe responde
desde esse Porto marítimo
da infância, muito antes
da era dos petroleiros e
da boçalidade dos banhistas.


2.

O arco descreve
o intenso itinerário
de Leipzig a Paris
de Berlim a Varsóvia,
o fascínio dos palcos, o
secretismo dos camarins,
na arritmia do pulso
que o fulgor persegue.


3.

Num crescendo vibrátil
desenha o andamento,
seus motivos ascendentes de
harmónica tensão. E na pausa
final, que um ímpeto antecede
o arco se suspende
augúrio e êxtase.



4.


No atelier londrino
de Mallord Street,
o pintor fixa o instante
de uma metamorfose.
Na tela cresce a silhueta
unida ao Stradivarius,
num corpo mútuo
de exótica mariposa,
olhos cerrados no meridional
abraço. Nem Pablo
o virtuoso, nem qualquer outro
amante, desatará jamais
esse abraço sem fim.

Inês Lourenço, A Enganosa Respiração da Manhã, Asa Editores, Porto, 2002







04 abril 2006

http://www.suggia.weblog.com.pt




Ainda bem que a "Casa da Música", substituiu o anódino nome de "Auditório 1" - sua principal sala - pelo nome desta lendária e extraordinária artista, tão conhecida e recordada noutros países, que não o seu.
Consta que devido a esforços da novel Associação Guilhermina Suggia.

02 abril 2006

BLOGANDO

01 abril 2006

ANTÓNIO NOBRE EM PLENA LUZ

in ALGUMAS PALAVRAS

de Joaquim Manuel Magalhães
(Actual, Semanário Expresso, 1 de Abril de 2006, p.68)

A auto-repressão da sexualidade em Nobre ou a afirmação que atentamente Curopos nos mostra da impossibilidade de contacto físico com uma mulher - tudo isto sem nunca sair do plano estrito da obra - acaba por nos evidenciar as verdadeiras razões da sua relação com o país
(...)

Porém, o feminino (melhor, aquilo que a dogmática de cada sucessiva época estabelece como o estereótipo do feminino, que se transforma quase sempre numa falsa suposição, pois fora do anatómico e do biológico o feminino e o masculino não passam de um mutante imaginário colectivo) ganha um outro sentido mais radical, falando Curopos da "polaridade feminina" existente no próprio Nobre enquanto autor dos seus versos .
(...)
No fundo, de que tem medo Nobre, tão evidentemente conhecedor da sua aterrada identidade sexual? Mais do que do universo social em que se move- que é fundamental, mas é exterior a si -, Nobre teme o que radicalmente interiorizou, a sua contínua ligação a uma religiosidade que corrói quem dela não se precata. Sabemos bem até que ponto a religiosidade pode, no seu fundamentalismo mais comum, criar uma massa de auto-rejeição àquele que persiste em viver sob a sua ideologia sexualmente torcionária. (Ainda hoje assim é.) A religião que foi também a de Nobre, tem os seus representantes não em pastores que se disponham a perceber, mas em delegados, os incumbidos de serem aparentemente mais brandos, ou em comissários, de estandartes designados para uma eficaz proselitização, de um poder central facínora, o Vaticano.
Esta voz no nosso tempo, é por exemplo, incapaz de perceber quanto a defesa da libertação da auto-repressão e da exclusão de direitos cívicos dos homossexuais - entre múltiplas outras defesas de igualdades cívicas plenas, a maioria tocando a condição das mulheres - é um dos mais fortes sinais da afirmação da cultura europeia contra outras, também facínoras, que a aneaçam.

Nobre vive esta sufocação de um país que não o deixa existir plenamemnte. Por isso o idealiza, por um lado; por isso o acusa do mais doentio presente, por outro lado. Talvez também por isso, seja o menos ideologicamente empenhad0 numa luta, idealista ou materialista, por qualquer alteração do país, no que não acredita - que lhe pode importar, e mal sabe dar voz a isto, aquilo que o rejeita? Ele sabe que o seu país lhe dá morte, simplesmente. Podemos ver este poeta em que o "desejo se dessexualiza" descer mesmo, na sua Correspondência, a ataques absurdos à homossexualidade - como que numa auto-defesa trágica.

(...)
A sensibilidade de um homossexual nada tem a ver com a de Nobre: aliás, ,a sensibilidade de um homossexual nada tem a ver com a de outro homossexual, quero dizer, a de um indivíduo humano não tem a ver com a de qualquer outro.
(...)

Estes são breves excertos do excelente texto, publicado hoje, no semanário referido em epígrafe, acerca da tese:

Fernando Curopos, Le féminin dans l'oeuvre de António Nobre, Université Paris - Sorbonne, Ecole doctorale IV, 28 Rua Serpente, 75006 Paris




(...)