27 dezembro 2006

Finale



La Toilette, Musée d'Orsay, Paris,1896
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Para ilustrar os últimos "novembrinos" que reputo interessantes para mim ou para o mundo e que vou enunciar em Fim-de-Festa das influências plutónico-jupiterianas desse mês, aponho - usemos o português e não as "postas" anglicistas - esta bela imagem do Henri de Toulouse-Lautrec, nascido a 24 de Novembro de 1864.

Só refiro as respectivos dias do nascimento. Que foi isso que os reuniu, no meu tema.
Quanto aos outros pertinentes informes, estou a lembrar-me daquele "fabuloso" anúncio sobre iogurtes:
"Querem saber como é um corpo Danone?"
Vão ao Google.
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Cecília Meireles - 7 de Novembro
Katharine Hepburn -9 de Novembro
Richard Burton - 10 de Novembro
Hans Magnus Enzensberger - 11 de Novembro
Grace Kelly -12 de Novembro
Robert Louis Stevenson - 13 de Novembro
Martin Scorsese - 17 de Novembro
Rock Hudson - 17 de Novembro
Bernardo Santareno - 19 de Novembro
Jodie Foster - 19 de Novembro
François Voltaire - 21 de Novembro
Scarlett Johansson - 22 de Novembro
Bram Stoker - 24 de Novembro
Tina Turner - 26 de Novembro
Maria Severa - 29 de Novembro
Nadir Afonso - 29 de Novembro

21 dezembro 2006

A menstruação quando na cidade passava

in A Máquina Lírica de Herberto Helder
nascido a 23 de Novembro de 1930

(em jeito de efeméride, pelo parto de 2006 anos, de uma tal de Maria de Nazareth)

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A menstruação quando na cidade passava
o ar. As raparigasa respirando,
comendo figos - e a menstruação quando na cidade
corria o tempo pelo ar.
Eram cravos na neve. As raparigas
riam, gritavam e as figueiras soprando de dentro
os figos, com seus pulmões de esponja
branca. E as raparigas
comiam cravos pelo ar.
E elas riam na neve e gritavam: era
o tempo da menstruação.

As maçãs resvalavam na casa.
Alguém falava:neve. A noite vinha
partir a cabeça das estátuas, e as maçãs
resvalavam no telhado - alguém
falava: sangue.
Na casa, elas riam e a menstruação
corria pelas cavernas brancas das esponjas,
e partiam-se as cabeças das estátuas.
Cravos - era alguém que falava assim.
E as raparigas respirando, comendo
figos na neve.
Alguém falava: maçãs. E era o tempo.

O sangue escorria dos pescoços de granito,
a criança abatia a boca negra
sobre a neve nos figos - e elas gritavam
na sombra da casa.
Alguém falava: sangue, tempo.

As figueiras sopravam no ar que
corria, as máquinas amavam. E um peixe
percorrendo, como uma antiga palavra
sensível, a página desse amor.
E alguém falava: é a neve.
As raparigas riam dentro da menstruiação,
comendo neve. As cabeças das
estátuas estavam cheias de cravos,
e as crianças abatiam a boca negra sobre
os gritos. A noite vinha pelo ar,
na sombra resvalavam as maçãs.
E era o tempo.

E elas riam no ar, comendo
a noite,
alimentando-se de figos e de neve.
E alguém falava: crianças.
E a menstruação escorria em silêncio -
na noite, na neve -
espremida das esponjas brancas, na noite
das raparigas
que riam na sombra da casa, resvalando,
comendo cravos. E alguém falava:
é um peixe percorrendo a página de um amor
antigo. E as raparigas
gritavam.

As vacas então espreitando,
e nos focinhos consumia-se o lume em silêncio.
Pelas janelas os violinos
passavam pelo ar. E a menstruação nas raparigas
escorria pela sombra, e elas
gritavam e comiam areia. Alguém falava:
fogo. E as vacas passavam pelos violinos.
E as janelas em silêncio escorriam
o seu fogo. E as admiráveis
raparigas cantavam a sua canção, com0
uma palavra antiga escorrendo
numa página pela neve,
coroada de figos. E no fogo as crianças
eram tocadas pelo tempo da menstruação.

Alimentavam-se apenaas de figos e de areia.
E pelo tempo fora,
riam - e a neve cobria a sua página de tempo,
e as vacas resvalavam na sombra.
Em silêncio o seu lume escorria das esponjas.
Partiam-se as cabeças dos violinos.
As raparigas, cantando as suas crianças,
comiam figos.
A noite comia areia.
E eram cravos nas cavernas brancas.
Menstruação - falava alguém. O ar passava -
e pela noite, em silêncio,

a menstruação escorria pela neve.

H.H.
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nota: a imagem foi retirada de um post de C. Hall, no blogue
http://as-costelas-de-adao


19 dezembro 2006

Albert Camus - nascido a 7 de Novembro de 1930


"Os tristes têm duas razões para o ser:

ignoram ou esperam"
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Desaparecido em 1960 - é a primeira vez que falo da morte de um "novembrino",- num acidente de automóvel, com o manuscrito de um novo livro, por acabar, no porta-bagagens. Menina e moça, recortei da 1.ª página do "Notícias" a foto, não muito grande, com a notícia do acidente.

Ele foi, pelo pensamento e pela escrita um dos meus grandes esteios juvenis.
Ele falava das "verdades" que uma juvenil criatura pressente: o absurdo inapagável de tudo, sobretudo no paísinho vigiado e esquizóide (pobrezinho, mas com impérios), em que crescíamos.

Livros como "A Peste", ou "O Estrangeiro" ou a célebre peça "Calígula",
mudam a "existência" - ou melhor dizendo, mudavam....

10 dezembro 2006

O meu EÇA - nascido a 25 de Novembro de 1845

A muito pouca gente passará pela cabeça, que ler o Eça de Queirós, nos meus 14 ou 15 anos, era um acto de grande rebelião, semelhante ao primeiro cigarro, fumado às escondidas. Coisas estas muito "indecentes", sobretudo para "meninas". E o Eça, menos A Cidade e as Serras, A Ilustre Casa de Ramires, as Últimas Páginas e outras compilações bem conhecidas, estava no index, das obras interditas à leitura. Ler O Crime do Padre Amaro era um pecado mortal, que se não fosse levado a Confissão e Penitência, daria de certeza direito a um turismozinho na terra de Satanás.

Este autor impressionava-me, desde logo, por aquele ar amargo das fotos. Aqueles vincos e lunetas pessimistas, do nariz à boca. Mas aprendi nele a ironia e o disfrute da "choldra", em anos de "Portugal do Minho a Timor" e de "Deus no Céu e Salazar na Terra".

Mais tarde ao ler a sua biografia, e ainda há poucos anos, numa polémica no Expresso, confirmava-se que ele era filho de "mãe incógnita". Que no escondido nascimento, esteve para ir para a "roda" dos enjeitados, levado por uma criada, para encobrir a "desonra" da jovem progenitora, que de resto, nunca o quis conhecer...
A isso se opôs o avô paterno - cuja figura está retratada no avô de Carlos da Maia em Os Maias: Afonso da Maia -. Depois de o dar a criar a uma ama, na Póvoa do Varzim, superintende a educação do neto, até que este se forma em Direito em Coimbra, como o próprio pai, que era magistrado.

Ainda por cima, o José Maria, esteve "interno", aqui perto, no Colégio da Lapa, - a cinco minutos da minha casa - onde teve aulas de Francês, com o Ramalho Ortigão, filho do Director do Colégio, - que já não existe -.

As personagens femininas do Eça, sempre me despertaram consternação e solidariedade. Bem cá no fundo eu achava que a Luísa de O Primo Bazílio ou a Amélia do Padre Amaro, eram injustamente "executadas" no final, enquanto os "sacaninhas" dos partenaires amorosos, cá ficavam, a viver a vidinha deles. Mas, acontecia o mesmo a todas as "Madames Bovarys" e "Annas Kareninas", dessas épocas. E não posso esquecer o Conselheiro Acácio, o Ega, a criada Juliana, a tia de A Relíquia, o Gonçalo Ramires, as irmãs Gouvarinhos e tantos outros "tipos" sociais da "choldra" lusa.

E pensando bem, com mais uns electrodomésticos, uns motores para viação terrestre e aérea e uns ecrãs, como este, onde o evoco, a "choldra" não mudou tanto, assim...

04 dezembro 2006

Os dois nobelizados "tugas"



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António Egas Moniz -

Nascido a 29 de Novembro de 1874. Prémio Nobel da Medicina em 1949 (em parceria).
Médico neurologista, investigador, professor, etc.
È muito "politicamente correcto" achar que este é o "horrível" inventor da lobotomia, num tempo... em que não havia ainda psicotrópicos. Mas, isso são só "poeiras".
Realmente deve-se-lhe a angiografia (deteccão de tumores cerebrais), entre outros pioneirismos da investigação neurológica.

E a propósito de descobertas "malsãs". Quem descobriu a fórmula química da dinamite, foi o próprio do Alfred Nobel. Que ficou tão lixado com a aplicação bélica, que a Humanidade deu ao seu invento, que resolveu doar a massa "impura" que ganhou com ele, à "Fundação Nobel". Não é que há GENTE no mundo?
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José Saramago -

Nascido a 16 de Novembro de 1922. Prémio Nobel da Literatura em 1998. "Levantado do Chão", como tem honra em dizer, não negando as origens humildes. Autodidacta, ficcionista de grande mérito, poeta, dramaturgo, etc
Obras como Memorial de Convento, A Jangada de Pedra, O ano da morte de Ricardo Reis, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, O Ensaio sobre a Cegueira, etc, já pertencem à Literatura Universal. Numerosos sites se oferecem à pesquisa.

Assim, duas figuras de proveniência tão dispar:
uma descendente do aio de D. Afonso Henriques e outra de camponeses pobres e analfabetos (se calhar de ilateracia igual... à do príncipe...) recebem no mundo, a mesma distinção.

Há histórias maravilhosas, não há?