30 abril 2008

"L'imagination au pouvoir" - Maio de 68



25 abril 2008

música e revolução

música e revolução

MÚSICAS QUE REVOLUCIONARAM A MÚSICA

Karlheinz Stockausen
Arnold Schönberg

François-Joseph Gossec
Claude Debussy
Richard Wagner

25 ABR - 03 MAIO

casa da música - PORTO

21 abril 2008

Des(acordo)



Emudecer o afecto português?
Amputar a consoante que ilumina
a vibração exacta
do abraço, a urgência

táctil do beijo? Eu não nasci
nos trópicos; preciso desta interna
consoante para abrir a névoa
do dilecto norte. Grafem e vocalizem
como amam as variantes dos
falantes lusos, mas não
apaguem da matriz primeira

o seu modo de olhar o sol.

I. L.

15 abril 2008

Vasco Graça Moura

lamento para a língua portuguesa



não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
se remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia a dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós falamos nem sequer fingindo
que ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é a realidade
a relação da língua com a morte,
o que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
mais valia que fossem doutra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
da violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
e toda a gente o diz, mesmo essa que anda
por tal degradação tão mais feliz
que o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que uma vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.
forte memória, música e matriz
de um áspero combate:apreender
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e souber utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade,
agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
de assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam trunfantes
na raiva e na oração, no amor, no grito
de desespero. mas foi noutro atrito
que tu partiste até as próprias jantes
nos estradões da história, estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste. eu acredito
que te fizeram avaria grossa.
não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele esta miséria . que te roça.
mas com o que te resta me iluminas.

uma carta no inverno, Quetzal Editores, 1997, Lisboa

14 abril 2008

A desfiguração da Língua

Estou cem por cento de acordo com o poeta Vasco Graça Moura e com grande parte dos linguistas portugueses (que sabem do que falam) sobre as amputações ortográficas que se intenta fazer à nossa Língua, ao arrepio da romamidade, que é a nossa matriz.

Se com a TLEBS já se pretendeu "simplificar" de forma bisonha o que era indiciador seguro, agora com o "Acordo" a desfigurar grafemas importantíssimos na diacronia e no uso actual, fonético e gráfico, estamos a caminho de colaborar na festivaleira facultatividade palonça da inconsciência geral.

Aguardem então pelos "diletos" "contatos" com o "ótimo" "projeto" e sua "didática" "caraterística", cheia de "afeto". Talvez "percecionem" que "inflacionar", "infecionar" interesses precipitados ou de parlamentos mais politiqueiros que letrados, não leva a grande coisa.
Leva à "lógica" de ir ao "Egito" ver os egípcios...

E isto enquanto não amputam o "h" de homem ou de "hora". É que eles também são mudos!

13 abril 2008

Peter Sloterdijk

(...)
«Na realidade a metamorfose consumista do "sujeito" traz à consciência o direito de destruir os objectos do consumo. A reavaliação de todos os valores tem o seu modelo no metabolismo orgânico. Na medida em que tudo que existe se destina efectivamente a ser absorvido e incorporado pelo consumidor, o detrito acede ao estatuto de "grande resultado da vida em todos os seus estados", para voltar a dar a palavra ao sobrinho de Rameau, o antepassado do neocinismo. Neste quadro, a mutação dos valores desemboca sempre na desvalorização.

Segundo a mesma ordem de ideias, libertámos vagas formas de vivência, panteístas e politeístas, pois o sistema global favorece as pessoas desprovidas de qualidades muito fixas - como poderia ser de outra forma se a missão do indivíduo, no universo do capital, consiste em abandonar-se a ofertas de mercadorias cada vez mais numerosas, jogos de personagem cada vez mais diversos, reclames cada vez mais invasaivos e ambientes cada vez mais arbitrários?»
(...)

Palácio de Cristal - Para uma teoria filosófica da globalização, Relógio d'Água, Ed., 2008

07 abril 2008

SEIS !!!???

Não aprecio assuntos acerca de empresas comerciais futebolísticas, que é o que são, ao fim e ao cabo, os "grandes" clubes de futebol.

Mas, ao ver a euforia colectiva de muito povo da minha cidade, alegro-me por vê-los felizes, exprimindo-se na enérgica pronúncia do Norte.

E é cómico observar a bílis avermelhada doutros adeptos, que nos querem convencer, e pelos vistos estão ingenuamente convencidos, de que noutros pontos cardeais do país, não há "fruta" nem "café com leite" para escutar.

03 abril 2008

Adília Lopes - 3 poemas




Dia
sem poesia
não é dia
é noite escura

Mas a poesia
é noite escura


_________

Mesmo
uma linha
recta
é o labirinto
porque
entre
cada dois pontos
está o infinito


__________

O Inferno
são os outros
mas o Céu
também




Caderno, & etc, Lisboa, 2007



01 abril 2008

Carta a Joana (a propósito de um programa televisivo)

Cara Joana,



Esse simplismo, de afirmar que as pessoas incorformadas com o lastimável estado actual do ensino público, em Portugal, não queriam o 25 de Abril e a democratização do ensino, como seu grande corolário, é uma insensata inanidade.

Queriam sim, Joana.

- o fim da guerra colonial, onde tinham estado os companheiros e já se ameaçava iriam parar os filhos.

- queriam a abolição dos "filhos ilegítimos", da Concordata, das leis criminosas anti-aborto, do "chefe-de-família", das vergonhosas dependências e menoridades femininas em relação a um poder bolorentamente patriarcal, consagrado nas Leis da República.

-queriam liberdade de expressão, de reunião; a abolição do "exame prévio" e de todo o criminoso esquema repressivo.

E também sonhavam, Joana, com a democratização do ensino e dos bens culturais. Sonhavam, sonhávamos, sonhei, - pobres tolos, idealistas - que o povo ia aderir à Cultura como moscas ao mel.

Que ia trautear Mozart e Beethoven,(além dos inefáveis "Bacalhau quer alho" e da "Garagem da Vizinha"), dizer de cor o Pessanha ou o Herberto, espantar-se diante da Paula Rego ou do Amadeu de Souza Cardoso. Ainda por cima, tive a surpresa de constatar, num dos primeiros "Big Brother", que os jovens concorrentes, seleccionados entre milhares, nem sequer sabiam cantar "A Portuguesa". O país ficou chocado. Mas, que culpa tinham eles, se um sistema de ensino não lhes tinha transmitido uma identidade? Veio depois um tal Sr. Scolari, que por causa de uma bola e de um Figo multimilionário, pôs o "povão" a cantar de cor o Hino Nacional . Singularíssimo fenómeno!...

Mas, esses sonhos, eram efabulações erróneas, de quem tinha "romantizado" certos chavões revolucionários.

O nível do ensino não cresceu em democracia, mas sim o contrário. A democracia fez decrescer o nível do ensino.O "acerto por baixo" é o inevitável preço a pagar. Mas, é escusado bater tanto no fundo, ainda para mais com as verbas, que o Ministério da Educação se queixa de pagar.

Carolina Micaëlis de Vasconcelos , célebre linguista, mulher do excelente etnólogo José Leite de Vasconcelos. Quantos portugueses sabem quem são?

Do alto do seu bom aspecto, nascimento e fervor (BÉ)lico, tenha, por favor, um pouco mais de lucidez e contida perspectiva histórica. Talvez daqui a 20 anos, não pense o mesmo.

Cumprimentos cordiais.

I. L.